Irmã Simona Brambilla, missionária da Consolata, foi nomeada pelo Santo Padre Papa Francisco como Prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Após o serviço como Superiora Geral na Congregação (de 2011 a 2023), foi nomeada Secretária do Dicastério a partir de dezembro de 2023. Eis a nomeação no Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé: Nomeação do Prefeito e Pró-Prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada eSociedade de Vida Apostólica O Santo Padre nomeou Prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedadesda Vida Apostólica a Reverenda Irmã Simona Brambilla, M.C., até agora Secretária da mesmaInstituição curial.O Santo Padre nomeou Pró-Prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada eSociedade de Vida Apostólica Sua Eminência Reverendíssima o Senhor Cardeal Ángel FernándezArtime, S.D.B., ex-Reitor-Mor da Sociedade Salesiana de São João Bosco. Garantimos à nossa querida Irmã Simona as nossas orações e carinho e pedimos a Nossa Senhora Consolata e a São Giuseppe Allamano, nosso Fundador, que a apoiem e abençoem em todos os momentos deste importante serviço à Igreja e à Vida Religiosa.
A Consolação na Bíblia
A Bíblia apresenta a consolação como experiência de ser humano em relação com Deus.
A Educação da Floresta
Entrevista com a Ir. Noemi sobre a vida missionária em Roraima. Irmã Noemi Del Valle é Missionária da Consolata argentina, depois da sua formação e estudos em São Paulo, no sudeste do Brasil, ela foi destinada à missão na Amazônia, onde compartilha caminhos e a vida do povo em Roraima, há 14 anos. Irmã Noemi, conte-nos algo da missão em Roraima, ao norte do Brasil. Meu envio missionário foi para a população indígena. Povos indígenas da floresta, porque eu venho de um povo originário andino. Para mim é uma experiência muito rica, conviver com uma cultura diversa, é uma grande riqueza, na verdade. Estou com o povo Yanomami já fazem 7 anos, em Catrimani. A equipe missionária presente no Catrimani, é formada pelos Missionários e Missionárias da Consolata, que muito me ajudaram para entrar nesta realidade: por exemplo, com o estudo da língua, que ainda não aprendi bem, mas, me defendo! E após a inserção na propriedade Yanomami, qual foi o seu serviço? Comecei a trabalhar na área da educação, ajudando na formação dos professores Yanomami: é um processo que nossas Irmãs começaram já no ano 2000. É um ambicioso objetivo, sobretudo quando se fala de temas burocráticos do Governo, mas era um desejo dos próprios Yanomami que isso pudesse ser feito. Em que consiste o projeto? No reconhecimento, da parte do Governo brasileiro, do ensinamento realizado na comunidade indígena? Exatamente. A formação de professores com início na própria área indígena, com uma ONG e a Diocese de Roraima que era um fator caro para o âmbito educativo, mas então surge a reflexão, que o direito de toda a instrução deve ser assegurada em cada cidade brasileira, compreendendo ‘Os povos Yanomami da floresta’, e é por isso que se incluiu o Governo. A formação de professores, o reconhecimento dos estudos e um pequeno salário para os docentes locais, que os ajudaria para comprar o necessário para a pesca e a cultivação agrícola. Depois, eu também fazia um trabalho com as mulheres Yanomami, juntamente com Irmã Mary Agnes. Foi lindo acompanhar o processo e ver o protagonismo delas em resolver as problemáticas e tomar as decisões. Na cultura Yanomami, a mulher tem um círculo ativo neste processo? Quando eu comecei, já existia este processo que levava as mulheres a uma participação mais ativa nas decisões da comunidade, porque na verdade, eram os homens que participavam e falavam, nas reuniões, mas de noite, na maloca (casa comunitária dos Yanomami) as mulheres só falavam com seus maridos, ajudando-os nas reflexões. Agora, a mulher está mais presente: desde 2008 foram iniciados os encontros das mulheres, como uma continuação de toda a experiência que elas tiveram em outros eventos com os povos indígenas de Roraima. A Diocese apoiava as mulheres até que conseguiram participar de todas as iniciativas do Conselho Indígena de Roraima; e então decidiram ter esse tipo de encontros também na área Yanomami, discutindo situações que lhes interessavam no próprio contexto Yanomami. Iam na cidade para esses encontros com mulheres de outras etnias? Elas foram às comunidades que se revezaram para hospedar. Agora elas fazem reuniões na área Yanomami, escolhem um tema atual, por exemplo, no ano passado era “território”, pois a situação brasileira ameaçava o direito de viver em paz e autonomia em seu território indígena. Houve de fato uma invasão massiva, que resultou num desastre ecológico e humano: são grupos que vêm para a extração ilegal de minerais e são grupos armados. Criou-se uma situação de grande insegurança e com isso o pessoal médico que entrava periodicamente na área indígena não quis mais ir deixando os Yanomami abandonados a si mesmos. Verdade, lembro que se falava muito na mídia sobre os problemas de saúde dos Yanomami… O problema é complexo, vai além do problema de saúde em si: em casos de doenças graves, os Yanomami se deslocam para a cidade, onde há um hospital para eles. Mas os familiares que os acompanham precisam encontrar um lugar para ficar, mesmo que por meses. Tem uma casa de “apoio” que eles podem usar, mas lá dentro não acontecem coisas muito boas e há muita violência. No último ano, ocorreram muitos casos de violência ligados ao alcoolismo. Quem chega é levado ao consumo abusivo de álcool por outros indígenas que já estão na cidade há algum tempo… Voltemos à floresta e ao seu trabalho na educação… Chama-se “Educação da Floresta”, pois se refere integralmente ao contexto de vida do povo Yanomami. Nos meus 7 anos de serviço acompanhei o processo burocrático de validade de documentos de estudo e trabalho, e acompanhei os professores das diversas comunidades, na supervisão. É uma modalidade de educação que considera os elementos da cultura e do contexto em que vivem esses povos, mas também elementos culturais da sociedade majoritária do país. Não é fácil ingressar neste tipo de formação e o Estado não auxilia suficientemente o processo. A formação dos professores é na floresta ou na cidade? Ultimamente isso tem sido feito na cidade e nem sempre é positivo. Embora no ano passado tenha tido um encontro na missão Catrimani, onde as comunidades elaboraram pontos para apresentar ao Governo, em forma de ofício. Com o Governo (do Presidente Lula,) há esperança de dar continuidade ao projeto denominado “Conhecimento Indígena”, que tem como objetivo desenvolver o material didático necessário aos professores. Trabalhamos durante 5 anos a nível linguístico e pedagógico neste material. Agora você está na cidade… Sim, agora em Boa Vista continuo ajudando no nível logístico, a equipe missionária Catrimani e nos processos de formação de professores. Nestes tempos de emergência na área Yanomami, estou acompanhando os indígenas que vêm para a cidade por problemas de saúde: mães, crianças, todos chegam sem nada. Quais são os princípios deste tipo de educação? O bilinguismo, estudando nas línguas Yanomami e Portuguesa; a recuperação e valorização da própria história e da identidade do povo. É um processo lento, mas está dando frutos. Em Roraima, ajudei no atendimento oferecendo sabonete, cobertores (eles sofrem muito com o ar condicionado!), mas também ajudando a garantir
A cura milagrosa de Sorino Yanomami: um olhar teológico
Nas primeiras horas do dia 7 de fevereiro de 1996, Sorino Yanomami saiu da sua maloca (habitação coletiva Yanomami) rumo à floresta, em busca da caça. Foi surpreendido, atacado gravemente ferido por uma onça-pintada. Segundo os relatos do povo este foi o segundo caso na região da Missão Catrimani situada a 150 km de Boa Vista Estado de Roraima. No primeiro ataque ocorrido no final de 1995, apenas algumas partes do corpo da vítima foram encontrados. Como sabemos, Sorino Yanomami foi socorrido em estado grave pelos Missionários e Missionarias da Consolata que trabalhavam na Missão Catrimani. Precisava ser transferido com urgência para o Hospital geral na cidade de Boa Vista via taxi aéreo (avião de pequeno porte). O povo estava chocado e assustado, sem confiança nem esperança de ele sobreviveria. Pediam que o Sorino permanecesse na sua maloca para morrer, pelo menos em companhia dos seus familiares. Com fé, confiança e esperança à exemplo dos quatro homens do Evangelho que carregaram o paralítico com sua maca em cima do teto para que chegasse até Jesus a fim de ser curado (Mt 9,1-8; Mc 2, 1-12; Lc 5, 17-26) as Irmãs missionárias da Consolata, prestado os primeiros socorros, arriscaram tudo e fizeram a remoção de Sorino para cidade de Boa Vista. Começaram a rezar por intercessão do Bem-aventurado José Allamano pedindo a sua cura. Em Boa Vista as irmãs se revezavam em turnos no Hospital geral e facilitavam a visita e permanência dos parentes. Em 1901 o cônego José Allamano fundou o Instituto dos Missionários da Consolata e a congregação das Irmãs missionárias da Consolata em 1910. Ele é o Pai Fundador, um homem todo de Cristo e da missão. No contexto da narrativa da cura milagrosa do Sorino Yanomami, José Allamano é aquele “buraco no telhado” pelo qual os quatro homens dos Evangelhos fizeram passar o paralítico para que chegasse até Jesus e fosse curado. As irmãs pediam sem cessar por intercessão do Bem-aventurado José Allamano a cura de Sorino. Os quatro homens do Evangelho (Mt 9,1-8; Mc 2, 1-12, Lc 5,17-18) têm fé em Jesus, acreditam no seu poder de cura. É uma fé prática que lhes leva a procurar a todo custo a cura do amigo paralítico. O paralítico não consegue fazer nada sozinho, ele precisa de ajuda. Os quatro amigos se preocupam, praticam a fé que é gratuita. Uma fé viva, encarnada em vários gestos. Segundo São Tiago “a fé sem obras é morta” (Tg 2, 17). A fé, a confiança na bondade inabalável do poder de Deus e a esperança do verbo esperançar impulsionam os quatro homens a fazer algo inédito. Superando os limites, tiram o telhando da casa, descobrem um buraco e descem o paralítico com sua maca no centro da casa onde se encontra Jesus. Eles não têm medo da reação do povo. Querem ver o amigo curado. A confiança é a quinta essência da esperança, dizia o padre José Allamano aos seus missionários e missionárias. Em grego o quinto elemento é Éter, algo magnífico, grandioso, muito maior do que o ar que respiramos. A quinta essência é um Éter. A pessoa pode ter tudo: o ar, o fogo, a água e a terra, mas se não tiver confiança e esperança ela pode morrer. Lemos nos evangelhos que Jesus curava todas as pessoas doentes que encontrava ou que eram levadas até ele. “…o povo lhe trouxe todos os que estavam padecendo vários males e tormentos: endemoninhados, epiléticos e paralíticos; e ele os curou” (Mt 4, 24). Mas Jesus também curava por meio da fé dos que recorriam a ele solicitando a cura de alguém como é o caso dos quatro homens que com fé, confiança e esperança passaram o paralítico pelo buraco do telhado afim de receber a cura de Jesus. A cura milagrosa do Sorino, à exemplo da cura daquele homem paralítico, ressalta o valor da fé prática, da confiança e da esperança mostrando que Deus está atento aos que o invocam e a Ele recorrem em suas necessidades. A cura do indígena Sorino em plena floresta amazônica é um sinal visível da presença do Criador na vida do povo Yanomami e confirma o carisma da missão ad gentes legado pelo Bem-aventurado José Allamano. Irmã Mary Agnes, mc
Dois hinos para a canonização do Bem-aventurado José Allamano
Em preparação para a Canonização do Bem-aventurado José Allamano, fundador dos Missionários e das Missionárias da Consolata, foi lançado o convite para compor novos cantos para o próximo santo. A resposta foi entusiástica e inúmeras composições musicais chegaram de todas as partes do mundo e continuam chegando! Será um repertório precioso a utilizar no caminho que nos levará a outro acontecimento significativo ligado ao Pai Fundador: o centenário da sua morte, no dia 16 de fevereiro de 2026. Uma pequena equipe de Missionários escolheu dois deles como hinos de canonização: MUNGU BABA TWAKUSHUKURU KWA ZAWADI YA ALLAMANO composta pelo Padre Mshobolozi D. de Iringa, na Tanzânia. “A melodia e a harmonização do coral são excelentes. O texto parece-nos realçar os elementos fundamentais da espiritualidade do nosso Fundador. A melodia é simples, ladainha, imediata e pode ser cantada até caminhando, até com uma só voz” Equipe musical IMC MC LUZ DE SANTIDADE composto pelo Colégio Santa Teresita de Mendoza na Argentina. “Letra clara e brilhante, melodia capaz de criar um clima de alegria e celebração. É interessante que tenha sido composto não diretamente pelos missionários, mas por um colégio de estudantes, demonstrando que o bem que Allamano irradia vai muito além dos limites dos institutos” Equipe musical IMC MC MUNGU BABA TWAKUSHUKURU KWA ZAWADI YA ALLAMANO Mungu Baba twakushukuru kwa zawadi hii nzuri Mtakatifu Allamano kuwa msimamizi wetu x2 1.Kaanziisha WaConsolata – Baba Yetu AllamanoWamisionari kike kiume – Baba Yetu AllamanoIli waende kufariji – Baba Yetu Allamano 2.Nawataka watakatifu – Baba Yetu AllamanoNdipo muwe wamisionari – Baba Yetu AllamanoHapo mtawafariji wengi -Baba Yetu Allamano 3.Kila kitu mfanye vema – Baba Yetu Allamano Tena vema bila kelele – Baba Yetu AllamanoYote kwa upendo wa Mungu – Baba Yetu Allamano 4.Mpende sana litrujia – Baba Yetu Allamano Litrujia ya Ekaristi – Baba Yetu AllamanoImani yenu ikakuzwe – Baba Yetu Allamano 5.Biblia kitabu chenu – Baba Yetu Allamano Somo lenu la kila siku – Baba Yetu AllamanoLa kujenga mioyo yenu – Baba Yetu Allamano 6.Maria ndiye Mama yenu – Baba Yetu AllamanoTena Maria wa Consolata – Baba Yetu AllamanoIgeni unyenyekevu wake – Baba Yetu Allamano 0:00 / 0:00 MUNGU BABA TWAKUSHUKURU KWA ZAWADI YA ALLAMANO TRADUÇÃO: Pai Deus agradecemos por este lindo presente que Santo Allamano é nosso Padroeiro Fundou a família Consolata – nosso pai Allamano.Os missionários – nosso pai Allamanopara que possam consolar – nosso pai Allamano. Quero que vocês sejam santos – nosso pai Allamanopara que possam ser missionários – nosso pai Allamanoe assim consolarão muitas pessoas – nosso pai Allamano Faça tudo bem – nosso pai Allamanomas faça sem barulho – nosso pai Allamanotudo pelo amor de Deus – nosso pai Allamano Ame a liturgia – nosso pai AllamanoA liturgia da Eucaristia – nosso pai Allamanoirá ajudá-lo a crescer na fé – nosso pai Allamano Que a Bíblia seja o seu livro – nosso pai Allamanoa lê todos os dias – nosso pai Allamanofará crescer sua alma – nosso pai Allamano Maria é sua Mãe – nosso pai Allamanode uma forma especial Maria Consolata – nosso pai Allamanoimite sua humildade – nosso pai Allamano LUZ DE SANTIDADE Allamano padre y maestro ,Tú nos enseñaste a caminarjunto a María Consolatapara evangelizar. Tu amada Madre CelestialTe guió para que mostraraslo maravilloso delamor de Dios a toda la humanidad. San José Allamano, tú eresLuz de Santidad,guíanos en nuestro caminar. Allamano , padre fundadorno permaneciste en Turíntuvo tu presencia la Amazoniacuando Sorino te necesitóallí estabas haciendo un milagrocon verdadera humildadcon corazón misioneropleno de esperanza y caridad. San José Allamano, tú eresLuz de Santidad,guíanos en nuestro caminar. Nuestro mundo elige hoy tus virtudes y tu amor.Toda tu obra vive aquíPor toda la eternidad. Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Ut elit tellus, luctus nec ullamcorper mattis, pulvinar dapibus leo. 0:00 / 0:00 Luz de santidad TRADUÇÃO: Allamano, Pai e MestreVocê nos ensinou a caminharJunto com Maria ConsolataPara evangelizar.Sua amada Mãe Celestialte guiou para revelara beleza do amor de Deus a toda humanidade. São José AllamanoVocê é a luz da Santidade,Guia-nos em nossa caminhada Allamano, Pai FundadorVocê não ficou em TurimNa Amazônia você esteve presenteQuando Sorino precisou de vocêLá você estava fazendo um milagreCom verdadeira humildadeCom um coração missionárioCheio de esperança e caridade. São José Allamano você é a luz da santidade,Guia-nos em nossa caminhada. Nosso mundo escolhe hojeSuas virtudes e seu amor.Todo o seu trabalho vive aquiPor toda a eternidade.
O milagre de Sorino
O milagre diz respeito à cura de Sorino Yanomami, que foi atacado e gravemente ferido por uma onça-pintada na floresta amazônica brasileira em 7 de fevereiro de 1996. Sorino recuperou completamente sua saúde graças à intercessão do Bem-aventurado José Allamano. DESCRIÇÃO DO FATO Sorino é um indígena Yanomami, nascido na comunidade de Maimasik no Estado de Roraima, Brasil, provavelmente em 1955 (o dia e o mês não estão registrados). Ele reside na comunidade de Yaropi (na região média do rio Catrimani) e é casado com Helena Yanomami, mas o casal não tem filhos. O ambiente de sua comunidade é a imensa floresta amazônica, da qual, o seu povo obtém o essencial para viver, por meio de coleta, caça, pesca e cultivo de roças. Sua maloca (habitação indígena, usando um termo tupi que foi incorporado ao vocabulário da língua portuguesa brasileira) fica próxima à Missão Catrimani, uma comunidade de missionários e missionárias da Consolata, presente no local desde 1965 e composta por religiosos (padres e irmãos coadjutores) e irmãs. O superior da época, Guglielmo Damioli, lembra-se de Sorino da seguinte forma: “Com o passar dos anos, já casado, com seu grupo familiar, Sorino construiu sua maloca no início da pista de pouso da Missão. Ele aparecia com frequência na Missão, sempre acompanhado de sua jovem noiva. Um homem simples, com um eterno sorriso no rosto. Bom caçador na floresta, na sua frágil canoa e trabalhador árduo na plantação para contribuir com o grupo e sustentar sua família”. Nesse ambiente de floresta, na manhã de 7 de fevereiro de 1996, Sorino Yanomami foi atacado por uma onça-pintada. Gugliemo Damioli conta: “A onça, como de costume, atacou Sorino de surpresa, por trás. Com uma pata, ela fraturou seu crânio. No chão, os indígenas encontraram pedaços de ossos e parte de uma massa encefálica. Apesar da extrema gravidade dos ferimentos, Sorino não perdeu a consciência; ele conseguiu se libertar, levantou-se usando seu arco como uma lança para manter a onça à distância enquanto gritava por socorro. Em poucos minutos, com os gritos e a chegada dos indígenas armados com arcos e flechas, a onça fugiu”. O cunhado de Sorino, B. (não revelamos seu nome, por respeito aos costumes Yanomami, que não pronunciam o nome de uma pessoa falecida), correu para o pequeno dispensário da Missão em busca de ajuda, e a enfermeira principal, Irmã Felicita Muthoni, missionária da Consolata queniana, foi às presas ao local do acidente para ver a situação e prestar os primeiros socorros. A Irmã relembra aqueles primeiros momentos: “Vi Sorino no chão, em um banho de sangue, fiquei petrificada, congelada e trêmula, sem saber o que fazer. Chamei a mãe dele e pedi água; então, percebi que o couro cabeludo dele estava para fora e que Sorino também estava sangrando muito; havia muita areia e sujeira. Parte do cérebro dele havia vazado. Empurrei o cérebro para dentro e depois tirei o couro cabeludo e o coloquei de volta, mas ele ainda estava sangrando; estava vivo, mas não estava falando. Como não havia trazido nada comigo, peguei a única coisa que tinha, a camiseta que estava usando e a enrolei na cabeça de Sorino, para pressioná-la e estancar um pouco o sangramento. Em seguida, mandei alguém chamar o carro Toyota que estava de plantão na Missão. Com Dona Creuza, nossa ajudante, nós o colocamos em uma rede e depois o colocamos no Toyota que havia chegado nesse meio tempo com o Irmão Antonio Costardi, que também estava na missão. Sentei-me com ele no banco de trás, segurando sua cabeça, e dirigimos até o pequeno dispensário da Missão”. A irmã Felicita relata: “Olhei para suas mãos, mas as veias não eram mais visíveis. Peguei um pouco de plasma e coloquei em um pé e, no outro pé, uma gota de glicose com um analgésico forte”. Dada a gravidade da situação, a Irmã Felicita pediu que Sorino fosse levado ao hospital de Boa Vista, capital de Roraima. Ela consegue entrar em contato com a CCPY (Comissão Pró-Yanomami) e garantir um lugar no pequeno avião que atendia a vasta área indígena, embora tivesse que esperar um pouco, pois havia muitos pedidos de ajuda. Os colegas e parentes de Sorino se opõem à proposta de transferi-lo para Boa Vista. Como é comum nos relatos que acompanham situações de tensão e preocupação, eles chegam a fazer ameaças pois é inconcebível que um Yanomami morra fora de sua aldeia, sem o acompanhamento de parentes e de um xamã. O espírito de Sorino estava pronto para fazer sua viagem. Eles gritaram: “Não! Sorino vai ficar aqui! O xamã já disse que, quando o sol se puser, ele entrará na casa dos espíritos e subirá para o alto”. Por fim, eles cederam ao pedido da Irmã Felicita, mas com uma ameaça terrível: se o colega morresse na cidade, longe da floresta e entre “os brancos”, eles matariam com suas flechas os missionários presentes no Catrimani. Enquanto aguardam a chegada do avião, um jovem traz enrolado em uma folha de bananeira um fragmento de osso da cabeça de Sorino que havia encontrado no local do acidente, e formula seu “diagnóstico”: “Nós vimos quando Sorino chegou. Vimos o cérebro, vimos o osso, tiramos e enrolamos, e depois conversamos com os xapuri, os espíritos da floresta: Sorino não pode viver, porque o cérebro está fora!”. Por volta das 14 horas, com a chegada do avião, Sorino foi embarcado, acompanhado pelo tuxaua C. (chefe da aldeia). Após mais ou menos uma hora de voo ele foi recebido no aeroporto de Boa Vista pelas Irmãs Rosa Aurea e Lisadele que o levaram imediatamente para o Hospital Geral. O Dr. José Nunes da Rocha, médico que o tratou, relembra: “A situação de Sorino era muito grave e o paciente respirava com falta de ar, exalando miasmas, não acreditávamos muito na sua recuperação, porque a maneira como foi infectado, putrefato e em um lugar tão “nobre” como o cérebro, teria causado encefalite e meningite. Então, realmente não tínhamos muita esperança, mas ele chegou vivo e